O mercado de computadores não é mais o mesmo depois do surgimento do iPhone e do iPad. A Apple iniciou a tal da "era pós-PC" com seu smartphone e seu tablet enquanto a Intel, a Microsoft e amigos insistiam na idéia do netbook. Para correr atrás do prejuízo a Microsoft investe pesado e coloca a sua marca mais valiosa em risco, o Windows 8 é a aposta para tentar tirar um pouco de atenção da Apple e ao menos conseguir um segundo lugar no mercado de tablets diante do fracasso do Android neste segmento.
No último dia 29 de fevereiro a Microsoft lançou em Barcelona, durante a Mobile World Congress, o Consumer Preview de seu novo sistema operacional. Para adentrar a nova onda do touch screen o Windows 8 traz a interface Metro introduzida pelo Windows Phone 7 e que também se tornou conhecida na última atualização do Xbox 360. A nova interface traz um visual repleto de pequenos azulejos coloridos que valorizam a iconografia. Alguns desses azulejos são dinâmicos e mostram informações como novos e-mails, a previsão do tempo e compromissos da agenda. É algo que se esforça em se diferenciar do sistema iOS da Apple, cujos ícones são estáticos e a interface tenta imitar elementos do mundo real, como uma agenda com capa de couro e um bloco de notas Moleskine.
Passar o mouse sobre o canto esquerdo superior da tela traz lista de aplicativos recentes, lembrando sistemas portáteis como iOS e Android. |
Menu Iniciar antigo, que dá acesso a todos os aplicativos instalados, ganha repaginação e fica mais escondido. "Programas" viram "Apps" (aplicativos) |
Um dos recursos mais interessantes é poder deixar um aplicativo Metro pendurado na lateral, em tela dividida, como o e-mail |
Mais tímida, a área de trabalho ainda conserva os gadgets implementados pelo Windows Vista em 2006, um recurso que ainda não deverá ser relevante visto a oferta pobre deles. As bordas das janelas dos programas também herda aspectos do Vista, a translucidez, mas perdem as bordas arredondadas para ganharem um visual mais límpido, muito bem vindo. A diferença chocante, por conta do Metro, é a ausência do botão do "menu Iniciar". O acesso à "tela Iniciar" ainda será natural, podendo ser feito pela tecla Windows do teclado ou então naquele mesmo canto em que estava o antigo menu. Ao passar o cursor do mouse na região em que ele estava anteriormente (lado esquerdo inferior) surge um pequeno gráfico que irá te levar à tela na interface Metro (você não consegue fugir dela por muito tempo).
Outra grande mudança é que a interface Ribbon introduzida pela Microsoft no Office 2007 está agora presente em quase todos os principais programas que sustentam o Windows 8 fora do Metro, isso inclui o Windows Explorer. Quem gostava dos antigos menus que sempre tinham "Arquivo" como primeira aba terão que se despedir e abraçar o novo sistema, que eu pessoalmente acho mais agradável. Você perde um pouco de velocidade e espaço na tela, mas ganha ícones mais representativos do que só uma lista de texto.
Essa guerra entre interfaces me leva a outro ponto, os programas em si. Aqui podemos dividi-los em duas espécies diferentes: aqueles que habitam o ambiente Metro e aqueles que habitam a antiga área de trabalho. São facilmente diferenciáveis pelos azulejos na "tela Iniciar", os coloridos são os que aproveitam os recursos da nova interface Metro e são amigáveis para tablets, enquanto os outros mais genéricos precisam tirar você do ecossistema Metro para serem executados. Existem programas com versão para as duas interfaces como o caso do Internet Explorer. As duas versões não são unificadas, e funcionam sob processos independentes.
O conflito se estende a outras áreas do sistema. A barra lateral de programas recentes do Metro mostra apenas programas do Metro, tratando todo o conjunto do ambiente antigo da área de trabalho como se fosse apenas mais um aplicativo qualquer. Coisa que o atalho de teclado Windows+Tab também faz, diferente do Alt+Tab que trata todos os programas de forma mais homogênea.
Internet Explorer no Metro (esquerda) e no desktop (direita) |
Submetidos a mesma situação, alternadores de programas funcionam de forma diferente |
A parte de jogos do Metro parece estar toda associada ao nome Xbox, pegando carona no produto da Microsoft que está em seu melhor momento no mercado. Aparentemente a área deverá focar nos jogos mais simples, compartilhando jogos com os smartphones que utilizam o sistema Windows Phone 7 (que já tem a marca Xbox Live). Enquanto isso não há muitas novidades para a marca Games for Windows, que parece ter sido enterrada após ter fracasso em sua idéia de facilitar jogar no PC.
Outra parte que lembra muito o Xbox é a de venda de conteúdo multimídia. Indisponível para o Brasil, o Windows 8 deverá dar acesso ao mesmo catálogo de músicas e vídeos que o usuário de Xbox tem. Abandonando o nome e o serviço Zune, a Microsoft deverá ter um alcance muito maior para vender conteúdo multimídia. É uma corrida atrasada atrás do iTunes, mas que deve estar dando retorno em um mercado em crescimento nos EUA. Outros concorrentes incluem o Netflix, a Amazon, e o Google Play.
Nota-se que o Windows 8 é um sistema muito ligado à disponibilização de conteúdo pela internet de forma centralizada, o que me preocupa muito vendo o caso da Xbox Live brasileira. A venda de certos conteúdos esbarra em direitos comerciais (cada país pode ter uma distribuidora diferente para cada artista) e/ou questões legais (como a obrigatoriedade da classificação etária do Ministério da Justiça para poder vender jogos no Brasil). Na Xbox Live essas restrições fizeram com que o catálogo brasileiro fosse absurdamente menor que o catálogo norte-americano.
A maior parte desse texto coloca em dúvida a decisão da Microsoft em trazer a interface de seu smartphone para os computadores. A Metro é uma coisa que você vai querer usar? Eu devo admitir que o tom negativo desse texto tem muito a ver com a plataforma que utilizei para testar, um notebook convencional. A experiência talvez seja muito mais rica e fluída em um hardware com suporte a tela sensível a toque – de preferência capacitiva – no qual o Windows 8 se aproveita ao máximo de gestos como o deslize de dedo nas laterais da tela e o movimento de pinça com a capacidade de reconhecimento multi touch. Não digo que estou errado, porque o meu caso será o de muitos, provavelmente da maioria dos usuários.
A Microsoft se esforçou em tornar a Metro utilizável em ambos tipos de plataforma, tanto a toque como no uso de mouse e teclado. O problema é que a adaptação não é tão intuitiva usando o mouse quanto é com os gestos de toque. É uma curva de aprendizado lenta, porque ao menos neste Consumer Preview não existe nenhum tipo de tutorial. Alguns menus em que se acessaria puxando eles com o dedo em um dos lados da tela, no mouse você deve clicar o botão direito. Não são traduções exatas, o que pode confundir e frustrar a muitos.
Ao instalar o Consumer Preview – que é na verdade um nome bonito para versão beta – não tive problema algum com drivers, a Microsoft parece ter sofrido o suficiente com o Windows Vista e manteve a compatibilidade dos mesmos. As coisas funcionam bem, e diria que ele está bem preparado para o lançamento previsto para o segundo semestre deste ano. O meu notebook que roda o Windows 7 64 bits conseguiu funcionar aqui de forma rápida e estável, não é um sistema que faz grandes exigências de hardware. A questão aqui é otimizar, inclusive haverá uma versão nova especifica para os processadores ARM – de baixo consumo de energia, voltado para aparelhos portáteis – que infelizmente terá algumas restrições.
Mais discreto, novo sistema de notificações em forma de pop-ups no canto superior direito da tela não interrompe o seu trabalho |
Painel de Controle tem versão simplificada no Metro (esquerda) e mantém a versão completa acessível pelo Windows Explorer (direita) |
Lenovo IdeaPad Yoga mostrado na CES 2012, laptop se dobra para se transformar em tablet |
Agora só falta a sincronização dos savegames entre os aparelhos... |
0 comentários:
Postar um comentário